Ela, as dúvidas, as certezas e o sol.

Quando olho para trás vejo uma rapariga que tinha a necessidade de entender tudo e tinha sempre medo que dentro dela não existisse espaço para tanta informação. Ela só não esperava desiludir-se desta maneira: quanta mais informação ela absorve, mais espaço existe dentro dela. Pena é que esse espaço seja para dúvidas. A bondade excessiva metia-lhe medo, mas ela também nunca percebeu a maldade. O sol brilhava sem se cansar e o mar não tinha fim.
O medo dela era, na verdade, acordar um dia com tantas dúvidas que não seria mais capaz de encarar as coisas a sério. Medo de acordar e ser apenas um objeto frio e húmido que serve de decoração numa sala onde ninguém entra. A sua respiração poderia surpreendê-la e falhar, acabando por empatar a mobília toda daquela sala e já nem para decoração ela serviria.
Ela tornou-se um infiltrada na sua própria vida e as suas raízes derivam da saudade e do amor. Regava-se com lágrimas, com choro pesado, as vezes acompanhado por um sorriso ensaiado. Ela embriagava-se todos os dias com o perfume nostálgico do seu passado feliz e quem lhe dera, pelo menos uma vez, voltar a sentir tudo aquilo. Se ela tivesse, nem que fosse só uma terça parte, daquilo que ela viveu ainda a habitar em si, ela seria capaz de deixar as suas folhas cairem e renasceria, como nova.


1 comentário:

  1. "Se ela tivesse, nem que fosse só uma terça parte, daquilo que ela viveu ainda a habitar em si, ela seria capaz de deixar as suas folhas cairem e renasceria, como nova." Adorei esse trecho.

    http://gotinhasesperanca.blogspot.com.br

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